A voz forte daquela mulher


Então, pela primeira vez na vida, ela resolveu me ligar. Empapuçadas suas palavras, saindo de uma garganta que já teve de gritar muito e, por meio do som alto da sua voz, conter ânimos, bradando sempre em busca de paz. Mesmo com tantas dificuldades na vida, aquela mulher nunca se abalou. É forte, e consegue até sorrir, ainda que percebendo um monstro depressivo tentando, no dia a dia, e no dia após dia, consumir suas entranhas, chupar teu sangue, comer suas vísceras. Dor. Sofrimento. Solidão. E ela resolveu me ligar. E fez questão, talvez com a ardência e loucura de uma febre que nunca mais vai passar, de cantar versos rimados, ensaiados, compostos por ela e muito bem interpretados. A voz daquela mulher é linda. É forte, ainda. É tradução de lamentação, mas que aquece a alma e aquieta o coração. Naquele domingo, completamente bêbado de sono, ouvi a sua voz. O relógio marcava 8h17. 

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